Entrevista exclusiva: como nasceu o fone de ouvido

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A Koss foi fundada em 1958 na cidade de Milwaukee, nos EUA, por John Koss. Até a década de 1990, a empresa era sinônimo de fones de ouvido, tendo lançado produtos icônicos como o Pro4/AA, o Porta Pro e o SP-3, este último fazendo parte da coleção do Museu Smithsonian. Conversamos com Michael Koss Jr., Vice-Presidente de Marketing e Produto e neto do fundador John Koss.

Alexandre Algranti – John Koss foi realmente o inventor do fone de ouvido dinâmico estéreo para audiófilos em 1958? Parece que o modelo SP/3 começou como um acessório para o toca-discos portátil da Koss e depois tomou vida própria…

Michael Koss – É uma história interessante. O objetivo inicial foi criar um toca-discos portátil. Antes disso, meu avô tinha uma empresa de locação de TVs para hospitais, que foi fundada com os 200 dólares que ele ganhou de presente de casamento para comprar móveis. Ele conseguiu convencer minha avó a comprar TVs quebrados em Chicago para ele consertar e alugar para os hospitais na região de Milwaukee, que na época não tinham opções de entretenimento para os pacientes. Meu avô também tocava trompete em uma big band e sempre foi obcecado pela música. Com o advento e popularização dos discos em vinil, decidiu fabricar um toca-discos portátil, onde a portabilidade na época significava ir de um ambiente da casa para outro. Não é como hoje, onde o conceito implica em colocar no bolso e ir para onde você quiser. E agora o portátil está na nuvem. Mas durante as feiras ele descobriu duas falhas no produto. Primeiro, que era difícil de demonstrar dado o barulho nas feiras, e segundo que faltava uma diferenciação. Então, teve a ideia de colocar os falantes sobre os ouvidos das pessoas e as filas nos estandes começaram a crescer. E na sequência ele começou a receber pedidos de compra do fone SP3 e pouco depois se encontrou vendendo fones de ouvido como louco. É uma história empreendedora interessante e muito similar às outras onde se busca um resultado específico e se acaba mudando o mundo no processo.

AA – A Koss foi citada no seriado Mad Men, que girava em torno de uma agência publicitária nos anos 60. Seria pela publicidade irreverente da marca?

MK – É uma história muito engraçada. Não estivemos envolvidos na série, não pagamos nada e descobrimos o fato depois que as cenas foram gravadas. Li em um jornal que o estado de Winsconsin havia sido mencionado três vezes na série: uma na menção do Beloit College, onde eu e meu pai estudamos, outra com o Green Bay Packers,  o melhor time de futebol americano, e finalmente a Koss. O que foi uma surpresa para nós. Em uma visita subsequente ao set de filmagem, perguntei ao produtor Matthew Weiner porque ele tinha incluído a Koss no roteiro. Ele respondeu que os fones de ouvido haviam se tornado tão populares na cultura mundial que ele desenvolveu um interesse pela história dos fones. E pela história do meu avô, uma verdadeira história americana.

AA – A publicidade da Koss foi sempre irreverente, com caricaturas, trocadilhos…

MK – Sempre tivemos pessoas muito criativas trabalhando para nós. Meu pai trabalhou com publicidade na década de 1970 e ainda está muito envolvido com a publicidade na Koss. O humor iconoclasta está relacionado a algumas pessoas daqui.

AA – A Koss é um dos poucos fabricantes estabelecidos que ainda fabrica fones de ouvido eletroestáticos. Como é a demanda para esse tipo de produto?

MK – Os fones eletroestáticos compõem um segmento interessante do mercado e, acredite se quiser, ainda existe uma demanda substancial para eles. Nosso modelo ESP-950 foi muito bem avaliado entre os mais reputados resenhistas nos EUA, inclusive com relação ao preço dele quando comparado aos da concorrência. Está havendo um ressurgimento na alta fidelidade, e recentemente constatamos um aumento na demanda por ele.

AA – Fale sobre o projeto do fone de ouvido projetado especificamente para mulheres. Existem aspectos fisiológicos que impactam tal projeto?

MK – Foi um projeto interessante, onde nossas projetistas de fones de ouvido se uniram à nadadora medalhista olímpica Dara Torres e a pesquisa e desenvolvimento resultantes levaram a fones in-ear e ponteiras acessórias menores. Muitos fones são projetados por homens para uso por homens, com dimensões que inclusive podem intimidar as mulheres; então achamos que era uma oportunidade interessante. Atualmente, o modelo KSE-32 Fit Clip incorpora elementos desse projeto.

AA – O modelo Porta Pro é um clássico desde 1984. Existe algum upgrade planejado para este fone?
MK
 – É um produto incrível e um dos nossos mais vendidos. E não fizemos nenhuma alteração ao modelo original desde o seu lançamento.  Não conheço nenhum outro produto lançado na época que ainda perdure. E o motivo é a sua eletroacústica. Tem um desempenho incrível, algo que talvez você não esteja esperando, e como muitos de sala, é a porta de entrada para a alta fidelidade. Você usa o Porta Pro e fica viciado em alta fidelidade. Somos muito orgulhosos dele. Temos algumas edições especiais e variantes, como a versão com microfone, mas vou te contar um segredo. Em breve estaremos introduzindo uma versão sem fio via Bluetooth, com um cabo bipartido de modo a não mudar o projeto mecânico original. Estamos muito animados com as reações iniciais, o fone passou por testes muito rigorosos.

AA – Qual modelo da Koss você recomenda para uso com arquivos de áudio de Alta Resolução?

MK – Eu recomendo os modelos Porta Pro, o Pro4/S e o ESP-950, esse último em especial.

AA – A Koss possui o selo Koss Classics. Podemos aguardar por lançamentos em Alta Resolução?
MK
 – Meu pai está envolvido com a Orquestra de Milwaukee e ele trabalhou na gravação de várias sinfonias, onde inclusive o modelo ESP-950 foi projetado para uso nas gravações. É um catálogo extenso, com orquestras e obras incríveis atualmente disponível em CD. Estamos em contato com os desenvolvedores do Pono Player, o Neil Young tem sido uma voz incrível no movimento de Alta Resolução, e sei que ele está desenvolvendo um sistema de streaming em alta resolução. O interesse das pessoas em Alta Resolução nos levará nessa direção. Então, possivelmente estaremos disponibilizando áudio em Alta Resolução como arquivos e nos serviços de streaming.

AA – Não está na hora dos fabricantes começarem a explorar mais a HRTF em seus projetos? 

MK – A realidade virtual e a realidade aumentada são as forças motrizes na tecnologia de espacialização em 3D, e estamos prestando muita atenção. Porém, no momento a disponibilidade de conteúdo e de reprodutores são muito importantes.

AA – O que faz um grande fone de ouvido? 

MK – São duas coisas das quais falamos continuamente:  conforto e qualidade sonora. Um fone de ouvido que se encaixa e que soa muito bem. São dois fatores críticos. Um grande fone de ouvido tem que soar muito bem.

AA – E o que faz dos fones de ouvido da Koss tão especiais?

MK – Conforto e qualidade sonora. Fabricamos fones de ouvido com diferentes preços e proposições de valor, mas independente da linha de fones queremos fazer o absoluto melhor produto para a respectiva linha. Queremos que os nossos usuários percebam um grande valor. O foco inicial foi sempre fabricar produtos com grande valor e que durem por muito tempo. Nos EUA e em outros mercados, temos uma garantia para o tempo de vida do produto, que atesta que realmente acreditamos em nossos produtos e assegura que iremos fabricar produtos que durem por muito tempo.

AA – Michael, muito obrigado pela atenção. E mande um abraço para seu avô e seu pai.

Reprodução de alguns anúncios criativos, e irônicos, criados pela Koss ao longo de seus 60 anos de história.

*Alexandre Algranti continua na busca do fone de ouvido perfeito. Porém, espera nunca encontrá-lo…

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