Recentemente, para a felicidade dos que admiram e buscam por tecnologia visual e as infinitas possibilidades de Mapping, Alexis Anastasiou (Autor, VJ, Modelo e Manequim – Visualfarm) lançou seu primeiro livro: “MAPPINGFESTO – MANIFESTO DO MAPPING DE SÃO PAULO”, onde aborda técnicas adquiridas ao longo de sua jornada profissional, em busca de uma projeção lotada de tecnologia, sentimento, cores, luzes e formas.
Alexis Anastasiou felizmente concedeu a nós da Dealer Tech um trecho de seu livro, e com essa honra, compartilhamos então um pedacinho dessa história fantástica com você:
MAPPINGFESTO – THE SÃO PAULO FOR PROJECTION MAPPING
Há pouco tempo a cidade de São Paulo era dominada por uma camada intensa e onipresente de publicidade. Em cada fachada de prédio uma imagem implorava o nosso consumo. Em cada terreno baldio, uma profusão de “outdoors” nos bombardeavam com suas mensagens ligando beleza, juventude e felicidade a carros, celulares, calcinhas, cigarro, cerveja. A proibição da publicidade em espaços públicos deixou nossa vista mais limpa. A cidade apareceu, descoberta embaixo dos cartazes gigantescos. Restou a “imposição” da arquitetura: somos obrigados a conviver diariamente com as decisões tomadas por pouquíssimos profissionais que desenharam no passado os edifícios, pontes e casas onde vivemos. A aparência do chamado “espaço público” é principalmente definida por decisões privadas de indivíduos que construíram os prédios que aí estão. Caminhando por uma rua de São Paulo, fica claro que a distribuição de capacidade e sensibilidade estética entre esses indivíduos é muito desigual. Congelados com a força da lei, nossos poucos edifícios tombados ainda contribuem para eternizar uma imagem cujas gerações atuais e futuras são impedidas de modificar.
Until very recently, the city of Sao Paulo was covered by a dense and omnipresent layer of advertising. On each building’s facade, an image demanded consumption. On every derelict land plot, a plethora of billboards bombarded us with messages that associated beauty, youth and happiness to cars, mobile phones, underwear, cigarettes and beer. The new regulation that banned all advertisement in public spaces has made our skyline much clearer. The city emerged, unearthed from beneath the massive amount of signage and billboards. We were then left with the “imposition” of architecture: we are now obliged to live with the aesthetic decisions taken by the small group of professionals who designed our buildings, bridges and houses. The appearance of the so-called public space is mainly defined by the private decisions of individuals who built the structures we see. A walk in the streets of Sao Paulo shows how the aesthetic sensibilities and capacities of that group of individuals are unevenly distributed. Frozen by the rule of law, our few buildings protected as landmarks contribute even further to eternalise an appearance that cannot be changed by present or future generations.
Deixando ainda mais desesperadora nossa situação, na sua maior parte, os prédios de apartamento construídos em São Paulo nos últimos 70 anos são vendidos com ênfase na sua planta interior e na sua metragem de “área útil”. As fachadas são, portanto, área inútil. O resultado é uma cidade povoada por muitos prédios feios, quadrados, brancos encardidos, cinzas de sujeira ou pior, impecavelmente abaunilhados por um creme hediondo. Observamos também perplexos as “empenas”, laterais de prédios com 6, 10 ou 20 andares sem nenhuma janela. Alguns desses paredões são remanescentes de uma época em que se acreditava ser prejudicial à saúde receber em seus apartamentos o vento de um certo lado da cidade. Outras empenas mais recentes, retângulos vazios marcando o horizonte, resultam de regras de construção que não pensaram na aparência da cidade. Até pouco tempo, somente os pichadores e grafiteiros contestavam essa ditadura dos arquitetos e engenheiros. Utilizando camadas de tinta para desenhar imagens ou fontes ilegíveis, quebram as linhas quase sempre retas dos edifícios.
Making a dire situation even worse, most apartment buildings in Sao Paulo built in the past 70 years are sold with an emphasis on their interior and the extent of their “usable” space. Facades, therefore, are considered “useless” spaces. The resulting situation is a city overwhelmed with ugly buildings: boxy, fading white, grey with dirt and soot, or turned into a homogenous vanilla by a hideous cream coloured paint. We can also see, in utter perplexity, many tall buildings with one of their sides left completely blank, windowless. Some of these empty walls are reminiscent of a time when some believed it was unhealthy to get wind coming from a certain side of town. Other blank walls from more recent times, empty rectangles punctuating the horizon, are the result of building codes that did not take into consideration the look of the city. Until recently, only graffiti artists and pichadores (taggers) contested the dictatorship of architects and engineers. With the use of layers of paint to draw images or write nearly unintelligible words, they broke the square shape of the buildings.
Há pouco mais de 10 anos uma nova forma de expressão está sendo desenvolvida. Explorando as novas tecnologias digitais de produção de imagens e projetores mais potentes, as mega-projeções mapeadas misturam técnicas desenvolvidas na arquitetura, no grafite, na iluminação de fachada, no vjing e na criação de imagens digitais. O uso de técnicas de mapeamento e mega projeções em edifícios são a forma mais libertária de questionar a irreversibilidade das decisões tomadas por arquitetos no passado distante ou imediato. Utilizando-as de forma correta, podemos “remixar” a fachada de um prédio sem quebrar um só tijolo. Utilizando-as em larga escala, podemos refazer digitalmente a aparência de uma rua, um bairro, uma cidade. Seu caráter libertário está na característica impermanente das escolhas: podemos mudar as imagens projetadas em um edifício a cada noite, sem necessidade de obras civis. Para os conservadores que torcem o nariz e gostam da situação atual, fica preservado a imagem original do prédio durante o dia, com as projeções desligadas.
Since ten years ago a new form of expression has been evolving: large-scale projection in facades. Exploring emerging technologies for digital creation of images and new projectors, this new expression uses a mix of techniques and styles developed within architecture, graffiti, facade lighting and vjing. The use of projection mapping techniques is the most libertarian way of questioning the irreversibility of decisions taken by architects in the past. If we use it right, we can remix the facade without breaking a single brick. On a large scale, we can digitally remake the appearance of a street, a neighbourhood, a city. Projection mapping’s libertarian character lies on its impermanence: we can change the images being projected on a building every night, without the need for restoration. For urban conservationists who prefer to keep things as they are, the original building appearance is preserved during the day or when projections are turned off.
AO LADO E NA PAGINA SEGUINTE: PROJEÇÃO NO EVENTO VIREOGUERILHA NA AVENIDA AUGUSTA. 2011. FOTOS DE VIRGINIA MEDEIROS.
As mega projeções mapeadas podem transformar a arquitetura em uma experiência, na medida em que uma sucessão potencialmente infinita de formatos e imagens acontecem em uma fachada. As fachadas digitais podem ser sincronizadas a uma trilha sonora, obedecer instruções de um smartphone, reagir a escolha consciente de seus moradores ou interpretando seu humor através de análise de posts em redes sociais. As fachadas dos edifícios de uma cidade passam a ser sistemas dinâmicos que interagem com a rua em tempo real, causando e recebendo interferências de seus habitantes. Quando essas técnicas forem utilizadas em larga escala e de forma permanente, nós, habitantes das cidades, seremos capazes de modificar a aparência de nossos edifícios (ao menos durante a noite) da mesma forma que escolhemos a imagem de fundo do desktop de nossos computadores e telefones. A quase totalidade das nossas interações com o universo digital ainda são feitas através de telas retangulares: monitores de computador, smartphones, tablets. Óculos de realidade aumentada e visores de realidade virtual 360º abrem uma porta para a quebra do quadrado das telas. As projeções mapeadas também fazem parte dessas tecnologias que apontam para um futuro que está germinando nos dias de hoje: a transposição das telas, característica atualmente quase indissociável do universo digital.
Large-scale projection mapping can transform architecture into an experience, as a potentially infinite sequence of forms and images can take place on a surface of a building. Digital facades can be synchronised to a soundtrack, follow instructions from a smartphone, react to the choices of the building residents or interpret their mood through social media posts. Building facades thus become dynamic systems that interact with the street in real time, causing interference and being interfered by it. When projection mapping techniques become widespread and used in permanent installations, we, the city inhabitants, will be able to modify the appearance of our buildings as easily as we change the desktop of our computers or smartphones – at least during night time. Our interactions with the digital universe are almost always done through rectangular screens: computer monitors, smartphones and tablets. Augmented reality glasses and 360º virtual reality platforms disrupt the squareness of our view. Projection mapping is also part of this emerging future.
AO LADO E NA PAGINA SEGUINTE: PROJEÇÃO NO EVENTO VIREOGUERILHA NA AVENIDA AUGUSTA. 2011. FOTOS DE VIRGINIA MEDEIROS.
Um pouco além dos óculos de realidade virtual, as projeções de imagens são a única forma de simultaneamente libertar o universo digital do quadrado das telas e de levar a liberdade e fluidez do digital para os objetos do mundo real. Com a projeção mapeada, objetos pequenos e grandes tem sua imagem “real” transformada aos nossos olhos nus, sem a necessidade de óculos ou implantes. Conclamamos a todos que atuam em arquitetura, engenharia, urbanismo, artes visuais, programação de softwares e criação sonora a abraçarem essas possibilidades abertas pela contemporaneidade. Ado-ado-ado, vamos sair do quadrado das telas e das fachadas, transportando a dinâmica do universo digital para os campos da arquitetura, do urbanismo ou da construção civil. Abandonem suas telas e assumam a defesa radical da era da imaginação, dos bits e dos fótons. Estamos entrando na era da arquitetura remix.
Apart from augmented reality glasses, projection mapping is the only way to simultaneously free the digital universe from the squared confines of the screen and take the freedom and fluidity of the digital world to objects in the real, tangible one. With the use of projection mapping, small and large objects have their “real” images transformed to the naked eye without the need of an apparatus. We call upon everyone working in architecture, engineering, urbanism, visual arts, software programming and audio creation to embrace the possibilities offered by projection mapping. Let’s abandon the squareness of the screen and radically defend the age of imagination, of bits and photons, the era of the architecture remix.
AO LADO E NA PAGINA SEGUINTE: PROJEÇÃO NO EVENTO VIREOGUERILHA NA AVENIDA AUGUSTA. 2011. FOTOS DE VIRGINIA MEDEIROS.
Interessante, não é mesmo?
Mas esse trechinho foi apenas para deixar um gostinho de quero mais!
Alexis Anastasiou deixou um recado também:
Grandes empresas estão apoiando o projeto de Alexis para levar esse conhecimento ainda mais longe! Você também pode apoiar! → Nesse link você encontrará informações de todos os custos que o livro traz.
→ Essa é a página do facebook onde Alexis deixa os leitores por dentro do universo de Mapping.
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